Por Mark Sisson,
A dieta cetogênica é um tratamento eficaz para o câncer? Há um monte de histórias na mídia e no mundo on-line sobre a cetose, mas o que as pesquisas realmente dizem? Vamos lá:
Pergunta de um leitor:
“Eu li alguns estudos sobre o uso de uma dieta cetogênica como uma opção de tratamento eficaz para o câncer. Basicamente, os estudos dizem que o câncer não pode sobreviver em corpos cetônicos, mas em vez disso, requerem glicose para proliferar. Isto é, ao eliminar a glicose, as células cancerígenas morrem de fome. Eu quero saber a sua opinião sobre este tópico – Os tumores podem realmente ser regredidos com um regime cetogênico rigoroso?
Obrigado! Mike”
Primeiro, eu vou salientar que há mais de cem tipos de câncer. O que é bom (ou mau) para um tipo pode não ser bom para o próximo tipo. Assim, quando discutimos os efeitos da cetose sobre o câncer, nós temos que ser extremamente específicos. E acima de tudo, é preciso lembrar que nada disto constitui aconselhamento médico. Eu não posso dar-lhe aconselhamento específico e a ciência é ainda muito preliminar.
Com isso dito, várias linhas de evidência têm levado muitos pesquisadores a concluir que as dietas cetogênicas podem ter eficácia em tratamentos de câncer.
- Em geral, as células tumorais utilizam a glicose a uma taxa maior do que os tecidos normais.
- A hiperglicemia piora o prognóstico de alguns doentes com câncer, como aqueles de fígado, da mama, pancreático, e câncer reprodutivos femininos.
- Diabetes está associada a um risco elevado de muitos tipos de câncer, incluindo do fígado, pâncreas, cólon e de mama.
• Os diabéticos que usam agentes de redução da glicose como a metformina tem um risco menor de mortalidade por câncer.
Mas só porque açúcar elevado no sangue parece exacerbar a progressão do câncer não significa cetose irá parar ou até mesmo retardá-lo. Não é?
Diversos estudos em animais e in vitro têm descoberto que as dietas cetogênicas ou a administração de corpos cetônicos pode aumentar a taxa de sobrevivência, reduzir o crescimento do tumor, aumentar a morte de células tumorais, e melhorar a eficácia de terapias tradicionais. Um estudo descobriu que a injeção de corpos cetônicos em ratos seguindo uma dieta não cetogênica aumentou o crescimento do tumor. Interessante, mas corpos cetônicos injetados em cima de uma dieta não-cetogênica com comida de laboratório não é análogo ao modo como seguidores da dieta cetogênica produzem cetonas. Não podemos tirar quaisquer conclusões deste estudo..
Foram realizados alguns estudos em humanos, testando principalmente os efeitos da dieta cetogênica em pacientes com câncer cerebral. A evidência é mista.
Em um grupo de 16 pacientes com câncer avançado, a dieta cetogênica melhorou a qualidade de vida, incluindo o processamento emocional, em quem conseguiu tolerar a dieta. Em um par recente de estudos de casos, os pacientes com glioma mostraram a progressão do tumor em uma dieta cetogênica. Os tumores, na verdade, começaram a produzir enzimas necessárias para metabolizar corpos cetônicos, sugerindo que alguns gliomas podem adaptar-se as dietas cetogênica e passar a usá-las como nova fonte de combustível. Além de relatar os estudos de caso, os pesquisadores também revisaram a literatura do câncer de cérebro e a dieta cetogênica em humanos, como um todo, concluindo que alguns pacientes com câncer de cérebro respondem bem a cetose, enquanto outros não sofrem nenhum benefício. Aqueles que se beneficiam desfrutam da progressão tumoral retardada. Dito isto, apenas um dos estudos de caso em humanos abordados nesta avaliação usou a dieta como uma monoterapia; todos os outros estudos usaram a cetose em conjunto com mais terapias tradicionais de câncer (radioterapia, quimioterapia).
Quanto ao porquê de roedores com câncer se darem tão bem com a cetose, isto é em parte devido ao fato deles serem criações de laboratório geralmente geneticamente homogêneas, não “de tipo selvagem”. Seus tumores todos respondem mais ou menos de maneira idêntica para vários estímulos, sejam eles radiação, suplementos ou dietas cetogênicas. Os seres humanos são do tipo selvagem, e portanto, diferentes tumores humanos têm diferentes graus de metabolismo de corpos cetônicos e, assim, diferentes respostas a cetose. Aqueles cujos tumores expressam menos enzimas “ketolytic” provavelmente se sairão melhor em dietas cetogênicas do que os pacientes cujos tumores expressam mais enzimas que metabolizam corpos cetônicos.
Ainda assim, quando usado como um coadjuvante para a terapia do câncer, dietas cetogênicas parecem ser seguras e isentas de efeitos secundários graves. Se eu fosse diagnosticado com um câncer no cérebro, eu provavelmente tentaria uma dieta cetogênica rigorosa. É segura, e muito bem poderia melhorar o meu prognóstico, qualidade de vida, e a resposta ao tratamento. Em outras palavras, dieta cetogênica, sob a supervisão de seu oncologista, provavelmente não custa tentar. Mas não pense que você pode mergulhar na dieta e renunciar a todos os outros tratamentos.
O juri ainda está presente, mas eu espero obter algumas boas respostas no futuro próximo.
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