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Prática adotada por adeptos do body modification pode causar infecção, danos nos nervos, problemas na gengiva e dificuldade para engolir e respirar
Língua bifurcada ou tongue splitting é a prática que consiste em cortar a língua ao meio
Foto: CreativeCommons
Especialistas da área da saúde emitiram um alerta sobre os perigos que uma certa prática de modificação corporal pode causar para o organismo. Língua bifurcada, ou tongue splitting, como também é chamado o procedimento, pode deixar as pessoas vulneráveis a sérios riscos de hemorragia, infecção e danos nos nervos, de acordo com os médicos.
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Ter a língua bifurcada envolve cortar a língua de uma pessoa ao meio, deixando-a com a mesma aparência da língua de uma cobra ou lagarto. Com diversas técnicas para realizar o procedimento – utilizando desde laser, bisturi e até fio de nylon -, a prática se tornou um fenômeno global nos últimos anos entre os adeptos da body modification (modificação corporal).
No entanto, apesar de sua popularidade, os especialistas acreditam que muitos que realizam a prática estão alheios aos problemas a longo prazo que a técnica pode causar à saúde.
Pensando nisso, a Faculdade de Cirurgia Dentária, o Royal College of Surgeons e a Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos Reconstrutivos e Estéticos emitiram um comunicado que foi publicado nesta sexta-feira (3) para alertar a população.
Perigos da língua bifurcada
Ter a língua bifurcada pode causar prejuízos na hora de engolir e respirar, dizem os especialistas
Foto: shutterstock
Selina Master, da Faculdade de Cirurgia Dentária do Royal College of Surgeons, afirmou que os dentistas perceberam algumas “terríveis conseqüências” causadas por esses procedimentos.
“É tão importante que as pessoas percebam que estão se colocando em sério risco de perda significativa de sangue, infecção, danos nos nervos até problemas para respirar ou engolir”, informou Master.
Os especialistas também dizem que a prática pode causar fraturas nos dentes e danos dolorosos nas gengivas.
O presidente da Bapras, David Ward, acrescentou: “Nenhum cirurgião respeitável realizaria esse procedimento, pois ele apresenta altos riscos, tanto no momento do procedimento quanto a longo prazo. Não há razões médicas para fazer isso na Inglaterra, nem no País de Gales”.
Ward ainda falou sobre os cuidados necessários para um procedimento desse tipo, e que, certamente, não estão sendo adotados em todos os casos.
“Pacientes submetidos à cirurgia por razões estéticas passam por uma avaliação pré-operatória completa, muitas vezes incluindo avaliação psicológica. Mas os profissionais que realizam a separação da língua não terão o treinamento e as habilidades necessárias para tais avaliações, colocando seus clientes em risco muito significativo.”
Além disso, eles acrescentam que, após uma recente decisão da Justiça, qualquer pessoa na Inglaterra e no País de Gales que esteja oferecendo tongue splitting provavelmente estará fazendo um ato ilegal.
No entanto, ainda não ficou claro sobre essa situação, uma vez que a prática não é abrangida por qualquer legislação existente em outras partes da Europa. Isso significa que o procedimento invasivo é basicamente não regulamentado.
“Há uma necessidade urgente de que a lei em outras partes do Reino Unido seja esclarecida. FDS e Bapras também estão preocupados que, apesar do debate jurídico, a demanda por procedimentos de separação da língua possa continuar, mas clandestinamente”, afirmou Ward.
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Homem morre por não seguir recomendações de tatuador
Assim como a língua bifurcada, a tatuagem também é uma prática comum, que deve seguir recomendações de higiene
Foto: Reprodução/Twitter
Ao realizar alguma modificação corporal, ignorar as recomendações de higiene pode prejudicar a saúde e, em alguns casos, ser fatal, até mesmo quando se trata de práticas mais comuns, como uma tatuagem. Depois de ignorar as orientações do seu tatuador, um espanhol que havia acabado de fazer um novo desenho no corpo decidiu entrar no mar e acabou morto.
O homem, que não teve o nome divulgado, de 31 anos, foi avisado sobre a proibição de entrar no mar ou piscina antes da tatuagem completar duas semanas. Mas, mesmo assim, ele decidiu aproveitar as águas quentes do Golfo do México com apenas cinco dias depois de ter feito um desenho de uma cruz religiosa no tornozelo direito.
Ao fazer a tatuagem, o corpo é ferido, e como reação às agulhadas, o sistema imunológico inicia um processo inflamatório. Por isso, como qualquer outro machucado, o risco de inflamação e contaminação quando a ferida ainda não está cicatrizada é alto.
E foi exatamente isso que aconteceu com o hispânico. Tudo começou com relatos de febre, calafrios e uma erupção vermelha perto do desenho 24 horas após o banho de mar, segundo descreveram os médicos que o atenderam.
A situação foi piorando com o passar dos dias, e ele acabou sendo internado em um hospital, conforme afirmou o jornal britânico Daily Mail. Por conta de problemas com bebidas, o corpo não estava reagindo muito bem às medicações e seus órgãos começaram a falhar.
No entanto, duas semanas depois, mesmo com alguns hematomas roxos, ele foi liberado para casa. Mas sua recuperação estava longe de acontecer. Depois de muitas complicações, era possível ver que uma bactéria contraída no mar começou a “comer” sua carne, rasgando pedaços de sua pele.
Foi então que os especialistas constataram choque séptico, que é quando há falência do sistema circulatório aguda por infecção, geralmente provocada por bactérias, fungos e vírus. Dois meses após o ocorrido o homem morreu.
Cuidados com a pele
Outra forma de body modification, além da língua bifurcada, é a tatuagem
Foto: shutterstock/Reprodução
Especialistas concluem que não é preciso desistir da tattoo para continuar tendo uma pele saudável. Basta seguir as recomendações dos profissionais e tirar todas as dúvidas antes de marcar a pele.
A tatuadora Stéphanie Camargo explica que a tatuagem funciona como um corte, e que os cuidados devem ser os mesmos de quando se faz um machucado. “A pele fica exposta a todos os tipos de germes, por isso a gente fala para não entrar no mar, porque não é uma água limpa e com a pele ‘aberta’ a pessoa fica mais propícia a se infectar”, explica ela.
Stéphanie esclarece que a mesma regra vale para piscinas e banheiras. “Os produtos químicos usados para limpar a banheira também podem infectar”, alerta. Além disso, há o risco de contato com bactérias e vírus que podem ser trazidos por outras pessoas que usaram a banheira ou estão na piscina. O cloro também é inimigo da pele recém-tatuada.
De acordo com a tatuadora, é recomendável que a pessoa espere pelo menos um mês para entrar no mar ou piscina. “Mas isso depende da cicatrização da pessoa. Tem gente que demora mais. Quem tem problema de cicatrização precisa esperar pelo menos três meses”, conclui ela.
Outro aspecto que deve ser levado em conta após tatuar a pele é a alimentação, produtos condimentados e gordurosos estão fora do cardápio. “Carne de porco, ovo, frutos do mar, ou algo que a pessoa não está acostumada a comer é preciso evitar.”
A exposição ao sol deve ser controlada, pois pode causar inflamações na pele, ressecando a tatuagem e até criando bolhas. “No caso de grávidas e diabéticos é preciso autorização médica para tatuar” finaliza a tatuadora.
Por fim, uma higienização correta da área, o uso de pomadas cicatrizantes próprias para tatuagem, não prolongar o uso do filme plástico, não coçar ou puxar a camada feita por cima do desenho são dicas que garantem uma recuperação completa da pele sem nenhuma complicação.
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Tanto a língua bifurcada quanto a tatuagem são práticas realizadas pelos adeptos da body modification.
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