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Esquete mostra um youtuber injetando 25 mililitros de insulina como uma “brincadeira”; Sociedade Brasileira de Diabetes pede a exclusão do conteúdo
Em vídeo%2C personagem que representa um youtuber aborda diabetes de maneira irresponsável%2C segundo entidades
Foto: Reprodução/YouTube Porta dos Fundos
Um vídeo publicado pelo canal de humor Porta dos Fundos nesta quinta-feira (9) não agradou entidades que atuam para a conscientização e prevenção da diabetes. No esquete, Gregório Duvivier ironiza o comportamento de youtubers interpretando um deles, mas foi criticado pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e ADJ Diabetes Brasil.
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No esquete, um youtuber decide lançar um desafio de tomar injeções de insulina – hormônio usado para controlar os níveis de açúcar no sangue em pessoas com diabetes -, depois de ter comido diversos alimentos calóricos. Em tom de deboche, ele diz que vai injetar 25 mililitros de insulina no organismo e acaba morrendo.
“No intuito de fazer uma crítica a outros ‘youtubers’, [o vídeo] retrata o diabetes de uma forma errônea. Diabetes é uma doença crônica e um dos grandes problemas de saúde pública no nosso país. Além de transmitir informações infundadas sobre a doença, nota-se no vídeo a ridicularização do profissional de enfermagem e do uso indiscriminado da insulina, que pode acarretar sérios problemas de saúde, inclusive induzir ao coma ou até mesmo ao óbito”, escreveu a ADJ Diabetes Brasil em comunicado.
A SBD ressalta a seriedade da doença, que acomete aproximadamente 13 milhões de pessoas no Brasil e cuja “desinformação a respeito da condição ainda é grande”.
“Para se ter uma ideia do ainda grande desconhecimento acerca da doença, dados do levantamento destacam que apenas 5% dos brasileiros julgam necessário seguir orientações médicas para controlar o diabetes. Dessa forma, vídeos como o produzido pelo Porta dos Fundos reforçam a disseminação de informações equivocadas e que podem causar, direta e indiretamente, danos à saúde da população”, declarou a SBD em nota.
A entidade ainda solicitou ao canal Porta dos Fundos que exclua o conteúdo e pediu ainda uma retratação pública “às pessoas com diabetes, às suas famílias, aos profissionais que lutam pela educação em diabetes e a vigília diária para controlar os efeitos da doença”.
Veja a nota da SBD na íntegra:
“A Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) repudia, com indignação e veemência, o vídeo do Canal Porta dos Fundos intitulado “YouTuber”, divulgado em 9 de agosto de 2018. Na tentativa de criticar outros produtores de conteúdo do youtube, o personagem diz que vai injetar 25 mililitros de insulina no organismo, enaltecendo o uso indiscriminado e totalmente errado do hormônio, além de ridicularizar pessoas com diabetes e profissionais de saúde envolvidos no cuidado do paciente.
Longe de ser considerada uma brincadeira, o diabetes é uma doença crônica, que acomete aproximadamente 13 milhões de pessoas no Brasil e cuja desinformação a respeito da condição ainda é grande, como apontou recente pesquisa Datafolha lançada recentemente pela Coalizão Para Sobreviver, da qual a SBD faz parte juntamente com associações de pessoas com diabetes. Para se ter uma ideia do ainda grande desconhecimento acerca da doença, dados do levantamento destacam que apenas 5% dos brasileiros julgam necessário seguir orientações médicas para controlar o diabetes. Dessa forma, vídeos como o produzido pelo Porta dos Fundos reforçam a disseminação de informações equivocadas e que podem causar, direta e indiretamente, danos à saúde da população.
É importante destacar outros dados mundiais da International Diabetes Federation (IDF), que evidenciam os riscos do mau controle do diabetes: a cada 20 segundos, uma pessoa tem amputação de membros graças à doença; a condição é a maior causa de cegueira; a cada seis segundos uma pessoa morre por causa do diabetes e 80% das mortes decorrem de complicações como infartos e AVC (derrame).
É preciso que a sociedade se mobilize para que esse tipo de desinformação não tenha propagação. Diabetes é uma doença grave e se complica quando não controlada e exclui e marca a vida com lutas diárias.
Solicitamos, publicamente, ao Canal Porta dos Fundos a exclusão do conteúdo e uma retratação imediata às pessoas com diabetes, às suas famílias, aos profissionais que lutam pela educação em diabetes e a vigília diária para controlar os efeitos da doença. Os ativos de comunicação, como o site www.diabetes.org.br, com o vasto arsenal de informações, são uma fonte adequada e responsável.
SBD convida os representantes do Canal Porta dos Fundos para uma visita aos seus ativos e até mesmo à sede, para que possam conhecer dados e esclarecer quaisquer dúvidas. Isso reforça o compromisso com a educação e informação. A SBD, portanto, está à disposição para colaborar na produção de conteúdos relacionados ao diabetes.”
Desinformação colabora para falta de diagnóstico de diabetes
Diabetes acomete aproximadamente 13 milhões de pessoas no Brasil , segundo SBD
Foto: shutterstock
Apesar dos perigos, a detecção precoce e o controle adequado da condição pode ajudar a evitar todas essas complicações. Porém, o maior desafio está na falta de diagnóstico de diabetes: estima-se que metade dessas pessoas com diabetes não sabe que tem a doença.
“É uma doença totalmente silenciosa, não há sintoma. Então, a pessoa precisa fazer exames para ter certeza se tem”, afirmou o diretor da SBD Márcio Krakauer. A falta de acesso à atendimento de qualidade e rápido também ajuda a diminuir os cuidados com a saúde o que, consequentemente, influencia na falta de controle da doença.
A endocrinologista Cassandra Pauperio afirma que a dificuldade de conseguir atendimento especializado de qualidade colabora para que a identificação da doença seja inibida. “Nem todo mundo tem acesso fácil ao sistema de saúde para a realização de exames que podem identificar a condição. Quem não tem plano de saúde depende do SUS, e por conta da demora para conseguir ser atendido, o paciente acaba recorrendo ao médico apenas em casos emergenciais. Aí não dá para fazer a prevenção.”
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A maioria dos sintomas de diabetes aparecem tardiamente, quando a situação já está avançada – o que compromete o tratamento. “Quando a glicose está alta por muitos anos, podem aparecer alguns poucos sintomas, como excesso de sede, aumento do apetite, perda de peso, infecções urinárias”, completou Krakauer.
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