Marina Teodoro
Veja como o corpo reage quando há excesso de álcool no sangue e saiba o que pode diminuir os efeitos da sensação de náusea, queimação e diarreia
Com a intoxicação pelo álcool, o organismo precisa trabalhar duro para conseguir eliminar a substância do corpo
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Nada como brindar a chegada de um novo ano entre amigos e familiares. Nesse período, de festas e comemorações, é comum que o consumo de bebidas alcoólicas seja maior do que foi durante os outros meses. Mas sempre tem aquele que exagera, bebe além da conta, e acorda no outro dia com aquela sensação de dor de cabeça, desidratação, enjoo, diarreia e cansaço, que também pode ser resumida em apenas uma palavra: a temida ressaca.
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De acordo com o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), a ressaca “sempre se associa à intoxicação aguda de álcool. Inicia-se cerca de 6 a 8 horas após o consumo (período em que a concentração de álcool no sangue diminui e retorna a zero, em média) e pode durar até 24 horas”.
Os sintomas podem variar, já que cada metabolismo funciona de um jeito, mas é certo que quem já bebeu demais sabe exatamente quando está de ressaca. As reações são consequência da desidratação que o álcool provoca no organismo e do trabalho árduo que o fígado tem para eliminar a substância do sangue.
Mas não é só o fígado que sofre quando o indivíduo resolve “encher a cara”. Apesar de ser o mais sobrecarregado, outros órgãos também são afetados. Sobra para o estômago, pâncreas, rins, pulmões e até para o cérebro trabalharem na potência máxima para eliminar todo o álcool do organismo.
De acordo com a cardiologista do Hapvida Saúde, Sílvia Souza, o consumo exagerado pode gerar tontura, sonolência, fadiga muscular e dormência nos pontos extremos do corpo – dedos das mãos e dos pés. “O álcool também atinge rapidamente a corrente sanguínea e o sistema nervoso central. Por isso, o indivíduo tende a ficar descontrolado e perde a percepção do ambiente em que está inserido”, explica Sílvia.
Como o organismo reage
Um dos primeiros órgãos a sentir os efeitos do álcool é o cérebro. Ao mínimo consumo já é possível constatar alterações na percepção da realidade e do comportamento, como problemas de atenção, perda da memória recente, perda de reflexo, perda do juízo crítico da realidade, sonolência, anestesia, e, em casos mais sérios, coma alcoólico.
No sistema gastrointestinal, o álcool irrita as mucosas do esôfago e estômago, provocando a gastrite alcoólica, esofagite e diarreia. Em alguns casos, o estrago é tão grande que a pessoa chega a vomitar.
No fígado, a produção de enzimas – que atuam na aceleração de reações químicas – é afetada, e o órgão precisa trabalhar muito mais para conseguir metabolizar o etanol, podendo causar uma inflamação crônica, hepatite alcoólica e até cirrose.
O pâncreas, responsável por fabricar a insulina e enzimas digestivas, pode ficar inflamado pelo excesso de álcool. Essa reação pode evoluir para pancreatite, causando forte dor abdominal, perda de apetite, náusea, vômito e febre. Nesses casos, o ideal é ir ao hospital.
O sangue com etanol precisa passar pelos pulmões para realizar as trocas gasosas. Porém, como o sangue está alterado, esse processo será mais lento. Dessa forma, a respiração fica mais lenta e é preciso mais esforço para respirar – e é assim que o bafômetro consegue perceber se a pessoa tomou todas ou não.
A filtração final do álcool é feita pelo sistema renal. Em casos de excesso da substância, os hormônios dos rins que controlam a pressão arterial são alterados, o que culmina em hipertensão arterial.
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Como aliviar a ressaca
Não existe um milagre capaz de deixar uma pessoa embriagada 100% livre de ressaca no dia seguinte. No entanto, há algumas medidas que podem ser tomadas durante o consumo de álcool que ajudarão a diminuir os efeitos desconfortáveis dessa sensação.
A nutricionista do Hapvida Saúde, Marília Araújo, orienta a ingestão de bastante água para manter a hidratação, uma vez que grande parte das bebidas alcoólicas são diuréticas – ou seja, provocam a liberação de água, causando desidratação. “Sem água, o organismo não funciona direito e o cérebro sente a obrigação de se esforçar muito mais para executar comandos simples, como caminhar, por exemplo”, explica ela.
Os alimentos ricos em potássio, como, banana, abacate, kiwi e mamão, contribuem para a recuperação da ressaca, pois seus nutrientes são fundamentais para o sistema nervoso e muscular. Vale ressaltar que mesmo com a sensação de tontura, dominar o enjoo e ter uma boa alimentação se torna essencial para a melhora dos sintomas. “As frutas são ótimas opções. Ricas em frutose, elas aceleram o processamento do álcool pelo corpo e repõem a energia”, esclarece a especialista.
Confira uma lista de alimentos que podem amenizar os estragos da ressaca.
Água de coco: o álcool tem ação diurética e faz com que a pessoa perca muito potássio e sódio. Além de hidratar, água de coco repõe estes minerais
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Refrigerante de limão: estimula a produção da enzima ALDH, que metaboliza o álcool ingerido, além de conter água e açúcar, que sempre ajudam
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Bananas: possuem potássio e sódio e diminuem as câimbras, cansaço excessivo e as dores musculares
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Laranja: também tem potássio e sódio
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Macarrão: alimento rico em carboidratos que, após ser digerido, se transforma em açúcar para o corpo
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Bolos: têm ação similar à do macarrão
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Pães: também são alimentos ricos em carboidratos
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Ovo: o corpo produz acetaldeído, substância tóxica, quando detecta o álcool no organismo. Em seguida, produz glutationa para evitar a intoxicação. O ovo é rico em uma proteína que contém glutationa
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Tomates: são ricos em vitamina C, glutationa e potássio
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Espinafre: contém ácido fólico, vitamina C e enxofre, nutrientes que ajudam a eliminar os sintomas da ressaca, pois colaboram com a limpeza do fígado
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Atum em lata: ajuda a repor diversos minerais que o corpo perde quando se ingere álcool
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Grãos integrais: ricos em vitamina B e ácidos, que são aliados do processo de desintoxicação produzido pelo fígado para se livrar dos excessos cometidos
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Como preparar o corpo para evitar ressaca
Algumas dicas valiosas também podem diminuir os efeitos antes mesmo de começar a beber.
O velho conselho de não beber com estômago vazio deve ser levado a sério. É sempre bom se alimentar antes de ingerir álcool. Em jejum, o álcool chega antes à corrente sanguínea e acelera os efeitos no organismo, intensificando-os. Investir em uma dieta com níveis consideráveis de carboidratos podem ajudar a regular os níveis de glicose, já que o líquido vai combater a hipoglicemia.
Já o conselho de que misturar os tipos de bebidas alcoólicas não é uma boa ideia é mito. Tomar um pouco de cerveja e depois tequila, por exemplo, ou drinks que contenham vários tipos de destilados não vai influenciar na sua ressaca, mas sim o teor alcoólico das substâncias e a quantidade que a pessoa irá ingerir.
Para garantir um porre menos “sofrido”, é aconselhável tomar água nos intervalos entre um copo e outro, pois ajuda a manter o corpo hidratado. Alguns efeitos podem ser minimizados dessa forma, mas é sempre importante reforçar que mesmo seguindo todas as orientações não há garantia de que é possível encher a cara e acordar no dia seguinte livre de ressaca.
Saúde: bem-estar, dicas de alimentação, dieta e exercícios – iG