Violar direitos básicos era prática corrente durante a ditadura militar. Assista ao depoimento de uma vítima de tortura.
Minha memória não falha. Senti na pele o ditado “Deus, Pátria e Família”.
Em março de 1973, os militares invadiram minha casa, me sequestraram e me levaram para a OBAN (Operação Bandeirante). Fui torturado pelos militares durante 90 dias: fiquei 90 dias sem sol, estava verde, meus olhos eram completamente amarelos, vomitava biles pelo ralo da solitária, tinha notícias de que meus companheiros estavam sendo presos e mortos. Me tranquei e me mantive na minha integridade mental.
Da OBAN fui pro DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), fiquei durante 45 dias. Conheci o torturador Fleury e seus asseclas. Todo fim de semana era uma loucura, e muita tortura. Fomos para o presídio da Rua do Hipódromo e lá permaneci preso por mais um ano e meio.
A tortura possui um elevado potencial de corrupção que não se limita apenas a provocar o sofrimento do prisioneiro. Ela nega sua condição de ser humano, seja ele preso da justiça comum ou preso político.
Todo fim de semana o Esquadrão da Morte tirava os presos das celas para levar para fuzilar nas imediações do Brás, da Vila Formosa. Era o mesmo Fleury que comandava os presídios e as execuções.
A tortura possui um elevado potencial de corrupção que não se limita apenas a provocar o sofrimento do prisioneiro. Ela nega sua condição de ser humano, seja ele preso da justiça comum ou preso político. A tortura não é um método, é uma aberração.
A maioria das pessoas é de boa índole, contra qualquer forma de violência e opressão. Esse é o caminho da humanidade, não a disseminação do ódio. Nesse momento tão difícil que o nosso país está vivendo, a democracia é fundamental. A democracia é como o ar que a gente respira: Pode ser impuro, imperfeito mas é a melhor [opção] de convivência civilizada para todos os seres humanos.
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